(caio silveira
ramos)
Brontops Baruq é um dos grandes
autores brasileiros modernos. Avesso à
fama, ele possui uma identidade secreta como o Bruce Wayne do Batman. Mas não faz isso por ser enjoado. Faz por
modéstia. Mesmo assim, já é famoso nos círculos da literatura de
ficção-científica, ainda que se dê bem escrevendo em qualquer gênero. Além de
ser um magnífico desenhista.
Conheci Brontops olhando o verso
de umas fotos de viagem: para cada imagem captada pela câmera, ele ilustrava a
situação que a gerara, a história por trás daquela fotografia, e tudo se
tornava ainda mais interessante. Depois ilustrou um continho meu. E enfim,
descobri que ele também escrevia e tinha – talvez fruto de uma bagagem de
conhecimento profundo, que não excluía nem a “cultura pop” – uma criatividade
espantosa.
Não sei o porquê, mas enquanto
escrevia uma série de três crônicas intitulada “Não sou de briga”, para o
“Mirante dos Infinitos”, pensei em dedicá-la ao Brontops. Estranho isso, porque
ele é uma pessoa pacífica, tranquila, avessa a se meter em qualquer
polêmica. Talvez tenha pensando nele
porque as crônicas, para ilustrar as situações narradas, fizessem menção a
séries e desenhos dos anos 1980, assuntos que Brontops domina também. Mas provavelmente não era esse o motivo, pois
é difícil encontrar algum assunto que Brontops não domine. E sempre sem
qualquer pingo de afetação ou pretensão.
A razão da homenagem talvez fosse
uma perda recente na vida da identidade secreta de Brontops, mas como a
dedicatória não combinaria com o título da série – o que teria a ver “Não sou
de briga” com a tristeza de uma partida? – resolvi não fazer nas crônicas
qualquer menção ao seu nome.
Mas assim que acabei de enviar ao
Jornal a terceira e derradeira parte da série, encaminhei a Brontops as duas
primeiras crônicas, revelando minha intenção inicial de dedicar a ele aqueles
textos. Brontops achou graça, fez alguns comentários sobre o enredo e acabei me
despedindo dizendo que assim que fosse publicada, eu encaminharia a terceira
parte por e-mail, para que ele, pelo menos, pudesse apreciar as ilustrações da
incrível Maria Luziano.
A última parte enveredava por
caminhos estranhos ao enredo das crônicas anteriores e tratava do conflito
terrível de um eu-menino que, para reforçar as desculpas de um malfeito contra
um amigo, acabava por se desfazer de um querido carrinho de bombeiros, ainda
que isso provocasse algum arrependimento.
Publicada a crônica, a encaminhei ao Brontops, que me respondeu: “eu
tenho esse brinquedo!”. E alguns dias depois, para comprovar, ele me enviou o
tal carrinho de presente.
E ali, diante de mim, estava um
brinquedo idêntico ao que eu me obrigara a dar de presente a um amigo-menino,
em 1978: um carrinho de bombeiros “de ferro”, da marca Matchbox, vermelho, com
detalhes prateados e com uma escada amarela que subia e descia.
A conexão estava feita:
estranhamente, seguindo um caminho tortuoso, a crônica que imaginei dedicar
(sem saber por qual razão) ao escritor Brontops, revelava enfim suas
intenções. Ela era veículo de uma
amizade entre meninos. Meninos novos,
meninos velhos.
Meninos eternos.
Ilustração de Maria Luziano - cedida pelo Jornal de Piracicaba
Publicada no Jornal de Piracicaba em 9 de setembro de 2017
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