(caio silveira
ramos)
Para Tita
Por que, de repente, os olhos
verdes se encheram de tristeza?
Não que os olhos verdes não tenham
o direito de se entristecer: estamos em dias difíceis, de desilusão e de lutas
aparentemente perdidas.
Mas justamente por lutarem tanto
a vida inteira que ainda esperamos que os olhos verdes retomem sua
alegria. Onde estarão guardadas tantas
batalhas, perdidas, vencidas, mas bem combatidas? Onde estarão recolhidas suas visões de
presente e futuro? Será que os olhos
verdes se anuviaram justamente porque deixaram de ver o que virá? Ou será que é
justamente uma antevisão assustadora que os amedronta?
E nós, temos o direito de pedir a
ressurreição de sua alegria? Estaríamos sendo egoístas por que precisamos dessa
alegria e simplesmente não conseguimos viver sem a força que dela brota?
Os olhos verdes estão tristes. E
talvez, sabendo do desalento que sua tristeza provoca em nossa vida, se sintam
ainda mais desgostosos: tal responsabilidade deve pesar infinitamente sobre
suas pálpebras.
Os olhos verdes se dizem fracos.
E por se sentirem fracos, têm medo de andar pelas ruas sozinhos e precisam de
outros olhos fraternos (e eles são muitos) para conduzi-los. Outros olhos que ainda se alimentam da força
avassaladora que os olhos verdes emanaram a vida inteira.
Mas eu sinceramente acho que os
olhos verdes não estão fracos: estão apenas com um pouco de medo. Pois a chama
e a inquietude dos olhos verdes não se apagaram: continuam lá, instigando,
provocando, se digladiando com a apreensão que tenta arrancar suas forças.
Há de haver colírios que derramem
a tristeza para fora dos olhos. Colírios desenvolvidos pela mais avançada
medicina para afastar depressões profundas ou amarguras superficiais. Ou mesmo
devem existir terapias, mandingas, exercícios e luzeiros extraídos de
filosofias heterodoxas que afastem fantasmas e sombras. E a cura virá.
Egoísmo nosso ou não, precisamos
que os olhos verdes retomem sua alegria, mesmo que haja o risco de que essa
responsabilidade lhe pese ainda mais sobre as pálpebras: que nossa necessidade
não seja peso, mas sustentação que mantenha os olhos verdes acesos: que sua
luminosidade seja nosso farol.
Farol verde que nos abre passagem
e nos serve de guia no mar revolto e nas noites de tormenta.
Que seu brilho nos preencha com
sua glória.
Ilustração de Anderson Diniz - cedida pelo Jornal de Piracicaba
Publicada no Jornal de Piracicaba em 18 de junho de 2017
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